Bibliotecas e Inteligências Artificiais
Chegamos em 2025.
Olha só, que maravilha.
Quem viveu a virada do milênio, no ano 2000, e achou que o mundo acabaria com o bug dos computadores, assim como eu, sinto muito:
"Errou, errou feio, errou rude". Kkk
Filmes antigos, desenhos animados, programas de TV nos mostravam uma perspectiva um pouco diferente de como seria essa época (caso sobrevivêssemos).
Cada pessoa que mora neste globo azul esverdeado, não vai ao trabalho com sua própria nave espacial. Não temos nossos próprios robôs completos: "faz tudo", que com certeza o brasileiro daria o nome carinhoso de "Márcia".
Hoje temos as IAs (Inteligência Artificial) que quebram um galho, como as assistentes virtuais (entre elas a Alexa e Siri - a segunda sempre responde quando não é chamada), e um foguete que aprendeu a dar ré.
Ah, também temos outros tipos de dispositivos inteligentes (os "smarts" - vício brega do estrangeirismo), como lâmpadas, fechaduras, aspirador de pó, relógios (esse me lembra o Douglas Adams, no livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias"), os inseparáveis telefones celulares, copos inteligentes e outros.
Já é alguma coisa. Kkk. Lembrando que a humanidade caminha um pouco mais devagar do tanto que a gente projeta.
Quando me perguntam se foi eu que escolhi estudar Arquivologia, depois de revirarem os olhos e perguntarem: "Isso estuda o quê?" Alguém sempre solta um: "Mas, tu gosta de coisa 'vélha', heim"?
Socorro Sebastiana! Sabem de nada, inocentes. Kkk.
Na Arquivologia também tem tecnologia.
E também estudei algumas coisas, na época em que na internet "era tudo mato".
Fiz programação, redes, análise e desenvolvimento de sistemas, segurança cibernética e outras coisas mais.
Mas, se me perguntarem um dos meus filmes favoritos: sem piscar - "A Múmia" de 1999. Kkk
Parei de contar na 45° vez (sem hipérbole) que assisti. Sei todas as cenas, falas e piadas.
A coisa toda do Egito antigo, as maldições, a Bibliotecária atrapalhada, mais inteligente que os eruditos, me quebra.
Cresci nas Bibliotecas.
Sou do tempo que "dar um Google", era passar tardes lendo livros em silêncio e fazendo anotações.
Todas as semanas estava renovando livros diferentes.
A alegria de ver a carteirinha cheia de carimbos. E a tristeza de pagar R$ 0,50 centavos pelos atrasos.
A mania de cheirar todos, e os jornais, as revistas, os gibis.
Sim, a fascinação de ver textos e linguagens agrupadas com formas e conteúdos diferentes.
Doida? Completamente.
Cada um, com seu cada qual, ou cada doido, com a sua doidice.
Ainda ontem, estava lá, na Biblioteca da FURG "batendo ponto" .
Às vezes, tu pode me pegar nas salas isoladas, nas mesas da entrada, ou dormindo nas poltronas (me julguem).
Quando cheguei na cidade e todos falavam da Biblioteca mais antiga do estado do Rio Grande do Sul, pensei: "É como estar em casa".
178 anos de existência...
A boa anfitriã dos seus convidados, a "Dama" experiente.
Patrimônio material, não só feita de "pedra e cal", mas também de memórias.
Ela estava lá, na primeira enchente de 1941.
Ela estava lá, na segunda enchente de 2024...
Ronaldo Geruno, Diretor da Biblioteca Rio-Grandese.
"Em 1941 o prédio era diferente.
Estamos pesquisando sobre o que aconteceu nessa época.
Encontramos algumas atas escritas à mão e vamos buscar mais informações, para registrar em um livro, tudo que aconteceu na 1° e na 2° enchente.
Isso requer tempo e estudo, pois a escrita das atas são com letras às vezes difíceis de interpretar.
Mas, é importante deixar um registro para o futuro, por isso vamos fazer um livro.
Agora em 2024...
Foi apavorante.
Durante a chegada das águas da enchente em Rio Grande, nós ficávamos naquela apreensão, pois a água subia e descia e nessas oscilações estava o perigo.
Quando vimos a água chegando na beira do último degrau do lado de fora, ficamos preocupados.
O acervo fica na parte debaixo.
Na primeira linha, jornais e livros, temos segunda e terceira linha, onde a água subiu.
Ela não entrou pela porta da frente. Foi pela porta detrás, pelo elevador. Atingiu a primeira linha.
Quando vimos, pensamos:
'O que nós vamos fazer?'
Tu está na beira d'água, sem tempo e sem gente para ajudar.
Não conseguia dormir.
Foi quando o Daniel Amaral, do restauro da Biblioteca, conseguiu 2 bombas, 1 elétrica e 1 a gás.
Acionamos as bombas pela janela, e a água foi sendo retirada.
Não se perdeu nada.
Mas, a madeira onde ficam os acervos, tem em torno de 60, 70 anos, sempre esteve seca, agora está encharcada.
Em 5 anos ela vai apodrecer.
O 1° andar vai ser mexido.
O nível de umidade no momento está 4 metros.
Isso mesmo, 4 metros.
Temos usado desodimificadores para ajudar.
O jornal Estado de São Paulo me ligou para saber como estava a situação.
Ainda há muita preocupação.
Sou Diretor, faz 7 anos.
Nunca vimos uma coisa dessas acontecer."
Quando conversamos, Seu Ronaldo disse que queria me mostrar algumas marcas, deixadas pelo ocorrido.
Fiquei pensando sobre isso.
Sabemos que marcas, são expressões de algo que aconteceu, que acarretam tempo e experiência.
Pensei nos 178 anos de "marcas" de todos os tipos que foram registradas, armazenadas, preservadas pela nossa "Dama".
Marcas essas, que, nenhuma inteligência artificial, será capaz de substituir.
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