Rio Grande e Portugal Entrelaçados
O que há entre nós?
Além de um mar cruel, que brame, intensificando seu poder, mostrando que ele é o dono da razão.
Dos dois lados, a luta entre a adversidade e a esperança, no meio, a força destruidora da natureza, com a resiliência do espírito humano.
"Certa feita" (4 meses atrás) conheci o Sr. Luís Maria Magalhães dos Santos, português nato.
Estávamos no ponto de parada de ônibus e ele não parecia muito amigável.
Ele iniciou a conversa reclamando do transporte público da cidade.
Deixei ele desabafar com seu sotaque fortíssimo e aborrecido.
Após isso, comecei com o meu interrogatório:
"É mesmo? Quanto tempo faz que o Senhor mora aqui? Em qual parte de Portugal vivia antes?"
Mais de uma década andando por Rio Grande, vindo da região de Nazaré.
"Nazaré? Onde tem aquelas ondas gigantescas, com mais de 23 metros de altura?" Perguntei.
De repente, ficou empolgado falando do mar assustador e de como morar lá, dava frio na barriga.
Vi a expressão rude mudar para velhas lembranças.
Contou sobre o desejo de mudar de vida, vir ao Brasil com novas expectativas.
Enquanto aguardávamos o ônibus, falamos sobre vários temas, respeitando cada um a opinião do outro.
Voltamos ao assunto do transporte público. Kkk
Mas, essa não é a história só do Seu Luís.
Embora faça muito sentido, depois que recebi a seguinte mensagem, dela, que após deixar a cidade e por alguns bons anos morando lá, envia notícias de Portugal:
"Minha mãe está aqui. O Willian continua trabalhando longe e a Anne também veio para morar conosco. Estamos todos apertados na casa que ficou pequena. E eu lutando para conciliar os compromissos de nós 6. (Só eu dirijo e aqui o transporte público é péssimo)".
"...AQUI O TRANSPORTE PÚBLICO É PÉSSIMO".
Vi a cara aborrecida do Seu Luís na mensagem da Édina.
Engraçado, se não fosse a realidade.
Uma das provas mais claras de que Rio Grande e Portugal, continuam entrelaçados.
Tanto para os que vieram, para os que foram.
Por Édina Brasil Batista Britto
"Rio Grande foi uma cidade muito especial e muito importante para nossa história.
Começamos nossa família em uma época de grande prosperidade na região.
Willian começou a carreira profissional que impulsionou nosso sustento até hoje.
A indústria naval estava indo de "vento em popa".
Ele conseguiu se colocar no mercado, qualificar-se profissionalmente para trabalhar dentro dessa indústria, e prosperamos muito, enquanto estávamos aí.
Foi um tempo, em que convivemos com pessoas maravilhosas, de quem sentimos saudades.
Fomos embora após o polo deixar de funcionar, pois não havia mais oportunidade de emprego e com muito pesar deixamos o lugar.
As amizades e todas as experiências foram muito importantes.
Morávamos no Trevo e eu amava pegar o ônibus e "rapidinho" estar no Cassino, depois "rapidinho" voltar para casa.
Curtir a praia o verão inteiro.
Crescemos muito enquanto família, enquanto casal e profissionalmente.
Uma vida maravilhosa que nos deixa saudades e boas lembranças".
Ouvindo o áudio da Édina, com algumas pausas, voz pensativa e uma nota de tristeza, me fez pensar na mudança do tom da conversa com o Seu Luís.
Tanto para ele que aqui está, sente saudade de lá, quanto ela, que lá está, sente saudade de cá.
O que há entre nós, além do mar?
Imagens e Áudio : Acervo Pessoal Édina B. B. Britto
Trecho:
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